Aedes aegypti - fêmea sugando sangue, é o transmissor da febre amarela naas áreas urbanas

Febre amarela, vacina, autoimunidade e imunossupressão

Atualmente muitos pacientes vêm me perguntando a respeito da vacinação da febre amarela  e por este motivo, decidi escrever este artigo para ajudar a esclarecer um pouco as coisas.

Mas o que é Febre amarela?

A febre amarela é uma doença viral, transmitida nas áreas urbanas pela fêmea do mosquito hematófago Aedes aegypti. Sim, o mesmo responsável pela transmissão da dengue, zika e febre Chikungunya. Justamente por este mosquito estar presente nas cidades, o risco de uma epidemia nestas áreas de grande concentração populacional é muito grande.

 

Por que vacinar a população?

Infelizmente, o controle do mosquito transmissor nas grandes cidades não tem obtido êxito. Em parte pela ineficiência das autoridades, em parte pela negligência das próprias pessoas. Mas isto é outra história.

O fato é que somente a vacinação de pelo menos 80% das pessoas nas áreas de risco pode prevenir epidemias.

Dessa forma, estão sendo realizadas as campanhas nas áreas urbanas de São Paulo e em outros Estados.

 

E como é esta vacina da febre amarela?

A vacina da febre amarela é feita a partir do próprio vírus da doença, mas “atenuado” ( enfraquecido). Nesta campanha, será utilizada a vacina “fracionada”, ou seja, para conseguir vacinar uma quantidade maior de pessoas, as autoridades optaram por dividir a dose de uma vacina completa em 5, ampliando a cobertura vacinal. Por este motivo, estima-se que a duração do efeito desta vacina seja 10 anos, ao invés de permanente.

 

Quem deve vacinar-se?

Conforme orientações do Ministério da Saúde, todas as pessoas que vivem ou que vão viajar para áreas de risco, entre 9 meses e 59 anos de idade devem ser vacinadas, exceto aquelas que já receberam esta vacina no passado, por ocasião de uma viagem, por exemplo. Será dada uma dose apenas, sem necessidade de reforço.

Eu, por exemplo, recebi a vacina da febre amarela em idos de 1998, quando morava em Santos/SP, ocasião dos estudos da faculdade de medicina. Naquela época, havia epidemia de dengue na região e a possibilidade da penetração do virus da febre amarela no ambiente fez com que as autoridades procedessem á campanha de vacinação.  Naquela oportunidade, recebi a vacina na sua forma completa.

 

E quem não pode vacinar-se?

Existem algumas situações onde o uso de vacinas com agentes vivos (mesmo atenuados) é restrito:

  • Gestantes e lactentes: pela possibilidade de transmissão do vírus vacinal para o bebê através da placenta e pelo leite. Não é possível saber se este vírus causaria alguma doença no bebê.
  • Bebês com até 6 meses de idade: a imaturidade do sistema imunológico poderia fazer com que a vacina não gerasse o efeito protetor desejado
  • Idosos acima de 60 anos: com a imunidade mais debilitada, a vacina poderia também não funcionar, mas efeitos colaterais poderiam acontecer
  • Portadores de doenças que reduzem a imunidade ou que tomem medicações imunossupressoras.
  • Alérgicos á proteína do ovo: quando a vacina é feita utilizando esta proteína em sua composição.

Dos grupo acima mencionados o que nos demanda mais atenção e interesse, são os “portadores de doenças que reduzem a imunidade ou que tomem medicações imunossupressoras”, pois muitos pacientes da reumatologia encontram-se nessa situação.

 

Autoimunidade e Imunossupressão

A autoimunidade é um fenômeno que ocorre no organismo onde o nosso sistema imunológico, responsável pela defesa do corpo contra agentes estranhos passa a atacar o próprio organismo. As causas deste fenômeno ainda estão sendo esclarecidas, mas há indícios na falha do reconhecimento das nossas próprias células como nossas. Dessa forma células e anticorpos responsáveis pela nossa defesa passam a enxergar nossas próprias células como estranhas ao organismo, passando a atacá-las. Muitas doenças reumáticas como: artrite reumatóide, espondilite anquilosante, lúpus, etc são de causa autoimune.

A imunossupressão é o tratamento estabelecido para controlar este fenômeno de auto-agressão. São utilizadas medicações que bloqueiam ou reduzem a ação de nossas células e anticorpos de atacarem o próprio organismo.

 

Imunossupressão e vacinação

No entanto, estes tratamento também aumentam a vulnerabilidade a agentes causadores de infeções, como vírus e bactérias. Em tese, também aumentam a suscetibilidade á reações e infecções causadas por vírus vacinais atenuados.

Dessa forma, pacientes em uso de medicações abaixo para tratamentos de doenças reumáticas, devem evitar a vacinação para febre amarela:

  • Prednisona ou Prednisolona em doses >1mg/kg/dia
  • Azatioprina (Imuran®, Imunen®)
  • Sulfassalazina (Azulfin®)
  • Mesalazina (Mesacol®, Pentasa®)
  • Metotrexate (Metrexato®, Tecnomet®, Reutrexato®)
  • Ciclosporina (Sandimmun®)
  • Micofenolato de Mofetila (Cellcept®)
  • Ciclofosfamida (Genuxal®)
  • Infliximabe (Remicade®)
  • Etanercepte (Enbrel®)
  • Adalimumabe (Humira®)
  • Golimumabe (Symponi®)
  • Certolizumabe (Cimzia®)
  • Abatacept (Orencia®)
  • Belimumabe (Benlysta®)
  • Ustequinumabe (Stelara®)
  • Tocilizumabe (Actemra®)
  • Rituximabe (MabThera®)

 

O que fazer se não puder tomar a vacina da febre amarela?

Caso não possa tomar a vacina da febre amarela por qualquer dos motivos acima mencionados, a prevenção da doença se resume a evitar a picada do mosquito transmissor. Ações a serem tomadas:

  • Repelentes de insetos: use e abuse. Passe em toda a área exposta á picadas e repasse durante o dia, conforme orientação do fabricante.
  • Telas nas janelas e portas
  • Combate aos criadouros dos mosquitos. Seja vigilante e evite manter locais que acumulam água limpa, pois é onde os mosquitos depositam seus ovos e se reproduzem.
  • Complexo B: alguns alegam que o uso do Complexo B diariamente pode evitar picadas dos mosquitos. Mas esta informação não foi confirmada cientificamente.

 

Caso tenha alguma dúvida ou queira conversar mais sobre o assunto, por favor deixe seu comentário abaixo.

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Até o próximo texto!

 

 

 

 

 

 

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